Quando decidimos abordar a temática da violência sexual em um espetáculo teatral, estávamos cientes da responsabilidade implicada nesta ação. Definimos então que dialogaríamos com profissionais de diversas áreas que trabalham com esse tipo de violência. Começamos com a perspectiva de uma artista. Na quarta-feira, acompanhou o nosso ensaio a artriz Juliana Bebé, que tratou da mesma temática no espetáculo Amanheceu. Depois de assistir o nosso ensaio, Juliana fez algumas considerações e provocações, discutiu conosco aspectos da sua pesquisa cênica, apontando-nos os desafios que virão pela frente e compartilhando as soluções encontradas por ela em seu processo. Ela ainda nos indicou outras pessoas para conversar, além de livros, filmes de ficção e documentários como referência.
Hoje, Sara e eu trocamos o ensaio por um boa conversa com Débora Cohim, diretora do projeto Viver. O projeto Viver é um serviço governamental que atende pessoas em situação de violência sexual, oferecendo acompanhamento social, psicológico, médico e jurídico. Débora Cohim é mestre em gênero e trabalha com pessoas em situação de violência sexual há mais de dez anos. Em duas horas de conversa, ela compartilhou um pouco da sua experiência conosco, alertando-nos sobre a complexidade desse assunto: esclareceu-nos sobre a inconveniência do uso da expressão vítima de violência sexual, por minimizar a condição de sujeito e reduzir a história dessas pessoas ao evento traumático; desconstruiu a idéia de que o agressor é necessariamente alguém doente, revelando que há muitos casos em que atos de violência são praticados por homens comuns; explicou-nos que a redução desse tipo de crime está associada a uma mudança de valores, à construção de uma identidade de sexualidade que considere igualdade de direitos; esclareceu-nos sobre a possibilidade de construção de uma vida perfeitamente saudável após a experiência traumática, desde que se procure auxílio. Obviamente é impossível resumir uma conversa tão rica em tão poucas linhas e necessariamente estou reduzindo a experiência. Entretanto, pela importância que essas conversas tem no nosso processo de criação não poderia deixar de mencioná-las aqui.
Por fim, agradecemos a Juliana Bebé e a Débora Cohim pela disponibilidade e acolhimento da nossa proposta.