quarta-feira, 4 de maio de 2011

A dança sem pré-conceitos

A dança do ventre não chegou ao Brasil embebida de todo o seu significado. Para o senso comum, não ficou nada do ritual, das danças feitas pelas sacerdotisas, da dança festiva e de fertilidade... Veio o belo e, sobretudo, o sedutor. Às vezes, questiono-me. Por que temos essa visão limitada da dança do ventre?

Acredito que tenha alguma relação com o fato das dançarinas terem acabado dançando em prostíbulos, mesmo no Egito, e isso acabou dando outro sentido à dança para os desavisados que lá chegavam. Talvez, os contos das mil e uma noites podem ter interferido também. Essa história é muito forte no nosso imaginário, junto com a dança dos sete véus, etc. Tudo isso nos deixa às mãos uma visão preconceituosa da dança. Preconceituosa no sentido exato da palavra, de pré-conceber mesmo, de julgar antes de conhecer.

Queria poder, de alguma forma, mostrar ao público que não é apenas isso. Nunca foi só isso. Em Salvador, tem muita gente séria trabalhando com dança do ventre. E não se trata de ensinar outras mulheres a serem sedutoras e irresistíveis, como alguns bobos podem pensar. Isso faz parte também, mas nem é o foco. Há muito trabalho sendo feito. Há dedicação, estudo da técnica, pesquisa de dançarinas, criação coreográfica e cenográfica, bordado de figurino, planejamento da maquiagem e acessórios... enfim, todo um aparato para envolver o público no nosso mundo árabe. E, com tudo isso, queremos apenas dançar essa dança que nos conquistou. Eu, particulamente, queria que a dança do ventre fosse vista como outra dança qualquer. E que o público pudesse se admirar com a beleza da dança e com a capacidade técnica da dançarina. Ponto!

Dançando com o grupo Arabeskue, um grupo de pouco mais de dez dançarinas, com as quais dancei em lugares públicos diversos, me incomodava profundamente os comentários que éramos obrigada a ouvir. Era como se fóssemos uma mercadoria à venda. Não só desrespeitavam o nosso trabalho, desvalorizando a dança, mas nos desrespeitavam profundamente, com frases chulas e pejorativas, completamente desnecessárias. Hoje, provavelmente não aceitaria nenhuma palavra que me ofendesse sem responder. Minha indignação é enorme com o desrespeito, seja lá qual for e como for. Na rua, ainda escuto algumas, às vezes, infelizmente. Mas tenho certeza que faço estas criaturas insensatas (para não dizer outra coisa) passarem vergonha na rua. Quem sabe eles não repensam?

Pensando nisso tudo e numa forma de divulgar a dança do ventre sob um outro olhar, decidimos homenagear dançarinas de Salvador, convidando-as para abrir o espetáculo. Toda quarta vamos ter uma participação especial diferente. Vocês terão o prazer de saborear o trabalho de dançarinas maravilhosas, com bom trabalho técnico e longa história na dança do ventre. Eu, perto delas, sou só uma atriz apaixonada pela dança e ritmo árabes. Estou tão empolgada com isso. Já fechamos as convidadas de junho!! Em breve, vamos divulgar aqui no blog um pouco da história de cada uma delas.

p.s.: tenho sentido tanta saudade do Arabeskue... das arrumações engraçadas no banheiro para as apresentações no Aeroclube... dos ensaios na casa de Geovanna, domingo de manhã... de minha querida mestre em dança Márcia Mignac, que não está mais em Salvador. Saudade.

Um comentário:

  1. Um dia eu aprendo a fazê-los passar vergonha também. Sempre me dá branco no que dizer. E acho que um simples "vá tomar no cú" não resolve. Ofensa por ofensa... Um dia eu desenvolvo! rsrs

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